ALTO PARAÍSO DE GOIÁS – Polêmicas esquentam debates na Câmara de vereadores.

Temas como o incêndio na área do depósito de resíduos sólidos (Lixão), e acusação de incitação da comunidade contra atual gestão foram alguns dos tópicos que elevaram a temperatura dos debates nas sessões dos dias 16 e 17 últimos.

Roberto Naborfazan

A um ano das eleições municipais, que acontecerão em outubro de 2020, os bastidores políticos já estão inflamados por todo o país. Eleitores começam a cogitar nomes, e pretensos pré-candidatos já se movimentam e articulam, buscando colocarem-se em evidência.

Temas polêmicos têm sido debatidos pelos vereadores.

Em Alto Paraíso de Goiás, município que compõem a Chapada dos Veadeiros, no nordeste goiano, vários nomes são ventilados, alguns se autodeclaram pré-candidatos, outros fingem não querer, enquanto um ou outro usa de artimanhas para buscar se colocar no cenário.

As sessões realizadas nos dias 16 e 17 últimos, na Câmara de vereadores, deram mostra de um pouco do que está por vir.

É preciso ressaltar a firmeza e seriedade com que o jovem vereador Tito, presidente da mesa diretora, conduziu as sessões. Nos momentos mais contundentes dos debates chamou seus pares a razão, usando, na medida necessária, sua voz de comando e também o regimento interno da Casa.

Em resumo das duas sessões, a nota já deu um tom mais alto  quando o vereador João Yuji apresentou, para discussão em plenário, um requerimento onde afirma ter sido procurado pelo proprietário do único posto de combustível da cidade, que o pediu para requisitar, através da Câmara de vereadores, que a prefeitura lhe apresentasse recibos de pagamentos e apontamentos de tudo que o município deve em seu estabelecimento.

O vereador Fábio Reges apontou que a Câmara de vereadores não pode servir de cobrador para estabelecimentos comerciais, que essa informação o proprietário do posto pode obter na própria secretaria de administração e finanças do município, sem precisar usar os vereadores.

Fábio Reges afirmou que, em passado recente, essa mesma empresa usou desse tipo de pressão para conseguir redução de IPTU e outros impostos, e que eles querem novamente realizar encontro de contas, onde sempre levam vantagens. O vereador afirmou ainda que ele e muitos outros consumidores sofrem com a má qualidade do combustível vendido pela empresa, que tem o monopólio no município, que o vereador João Yuji deveria se preocupar com isso, e não vir querer fazer marketing político usando os vereadores.

O vereador Alcenadir Canela endossou as palavras de Fábio Reges, afirmando que esse tipo de requerimento é desnecessário de ser apresentado na Câmara, concordando que João Yuji está fazendo promoção pessoal política.

O vereador Zé Nêgo, usando sua forma simples e direta de se expressar, disse admirar que um homem tão inteligente como João Yuji se preste a fazer o que chamou de sandice, dizendo ao vereador João Yuji que ele se preocupasse com as verdadeiras demandas que a sociedade tanto clama.

Em resposta, o vereador João Yuji afirmou que não está fazendo política e que, “mesmo que o combustível seja adulterado, o proprietário tem direito a ter as informações”.

O vereador Claudiomar se posicionou dizendo que o empresário, que tem postos também no Distrito Federal, é quem tem que apresentar qual o débito o município tem com sua empresa, pois é dever do proprietário ter o controle de entrada e saída de seus produtos, afirmando ainda que qualquer informação ou negociação deve ser feita com a secretaria de administração e finanças do município, e não com a Câmara de vereadores.

O requerimento foi rejeitado por seis votos contra um, com a ausência justificada do vereador Pastor Marlony.

O fogo esteve no topo dos debates nas duas últimas sessões.

Outro ponto que gerou debates e intensas discussões no plenário foi o ofício enviado pelo gabinete do prefeito Martinho Mendes, onde se cobra do presidente da Câmara ações pertinentes em relação a uma mensagem enviada para grupos de WhatsApp, relacionadas ao incêndio no depósito de resíduos sólidos (Lixão), alegando serem de recomendações do vereador João Yuji, onde, segundo relatado no ofício, o vereador tenta politizar a situação e insuflar a comunidade contra a administração municipal.

“Causa estranheza de que o fogo atingiu o lixo logo após a finalização de relatório feito pela secretaria municipal de meio ambiente e agricultura sustentável, no qual são apresentadas as ações e medidas realizadas pela administração municipal na busca do cumprimento do que fora pactuado no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado entre o município, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual”, diz trecho do ofício.

Anexo ao ofício, o gabinete do prefeito apresenta print de postagem onde aparece recomendação citada como sendo do vereador João Yuji, de que as pessoas que se sentirem intoxicadas por “dioxina” devem ir ao posto de saúde pegar um laudo médico e depois ir ao Fórum agendar atendimento para uma ação civil indenizatória contra a prefeitura, convocando ainda a comunidade para reunião do Comdema (na mensagem erroneamente grafado como Condema) para protestar contra um suposto descumprimento do TAC.

O ofício indica ainda que há provas de que o fogo naquela área foi criminoso, ou seja, foi provocado por mãos humanas com intuitos obscuros.

O vereador Fábio Reges se posicionou dizendo que realmente começaram a aparecer o que ele denominou de “desocupados”, procurando o hospital para fazer exames se dizendo intoxicados pela fumaça na área do aterro. “Esse pessoal tem que procurar uma enxada ou qualquer outro instrumento de trabalho e parar de espalhar mentiras”, bradou Fábio Reges.

O vereador Zé Nêgo disse que essa é mais uma das artimanhas de gente que chega a Alto Paraíso de Goiás e quer que todo seja como eles querem. “Essa gente passa noites inteiras a beira de fogueiras, inalando fumaça e consumindo bebidas, nunca se intoxicaram. Não aparecem para dar um auxílio na hora do incêndio, e querem se dizer intoxicados. Quem poderia estar intoxicado seriam os funcionários da secretaria de obras e os cidadãos de bem que foram lá, como voluntários, ajudar a apagar o fogo, no entanto estão todos bem, e satisfeitos por terem colaborado. Agora, mais estranho ainda é o vereador João Yuji ficar fazendo essas postagens incitando pessoas a colocar na justiça situações tão pequenas, que podem ser resolvidas sem manchar a administração e  também a imagem de nosso município. O vereador João Yuji poderia ter convocado todos os vereadores para tomarmos juntos uma providência, mas ele prefere ir para as redes sociais se mostrar como o único que trabalha. Sou proprietário de uma área ao lado do aterro de lixo, estava lá auxiliando a apagar o incêndio, não estou e nem vi ninguém intoxicado.” Frisou Zé Nêgo.

O vereador João Yuji argumentou que não tem WhatsApp e que o oficio do prefeito usava de má fé ao citar o seu nome. No entanto, disse João Yuji, se o cidadão realmente teve uma intoxicação, e tem um laudo médico, ele tem o direito de abrir um pedido de indenização contra a prefeitura. Argumentou ainda que tem trabalhado para a construção de um aterro sanitário, mesmo não sendo função de vereador, mas que foi travado por causa do Parque Nacional, e que quem deveria estar fazendo isso era a prefeitura, que, segundo ele, descumpriu o TAC feito com o MPF. “O que postei foi sobre as diárias do prefeito, e ele ainda não me respondeu, por isso deve estar com raiva de mim”, pontuou João Yuji.

O vereador Zé Nêgo retrucou, dentro do regimento, que recebeu a mensagem em nome de João Yuji, e que se tem alguém usando o nome dele, que ele tome providências judiciais, visto que o nome dele é sim, citado na postagem.

O vereador Serginho argumentou que há anos as autoridades do município lutam para a liberação do Aeródromo, que fica ao lado do depósito de lixo. E que mesmo sabendo da existência desse depósito de lixo, as pessoas compram terras ali em volta. Todos sabem que aquela área esta sujeita a várias possibilidades de incidentes, inclusive pegar fogo, mesmo assim compram, depois querem viver sem nenhum ônus, transferindo responsabilidades e nada fazendo para ajudar. “Não fosse o trabalho muito bem realizado pelo Luisaço e a Reciclealto, que coletam papeis, papelão, plásticos e vários outros resíduos, a situação seria muito pior. Quero parabenizar o prefeito que agiu rapidamente acionando os secretários. Parabenizo o secretário Luizinho, que reuniu sua equipe, mesmo sendo um sábado, passaram o dia apagando o fogo. Agora, é preciso compreender que todos nós estamos fazendo o melhor para diminuir esses problemas que incomodam moradores e turistas, e para isso é preciso trabalharmos juntos.” apontou o vereador Serginho.

Secretário Luizinho esteve na Tribuna Livre da Câmara de vereadores.

O vereador Canela lembrou que, infelizmente, quase que cem por cento dos municípios brasileiros estão enfrentando problemas com incêndios e queimadas. Mas em Alto Paraíso de Goiás o que mais se vê são postagens falando e cobrando ações sobre incêndios. “Essas pessoas precisam entender que Alto Paraíso de Goiás não é o centro da terra, a administração de Alto Paraíso não tem um Bilhão de reais em caixa para resolver todos os problemas que temos da noite para o dia, vivenciamos as dificuldades de todos os pequenos municípios. Principalmente essas pessoas que aqui chegam, não para contribuir, não para viver e conviver como um cidadão Alto-Paraisense, chegam querendo mandar em tudo, colocar a ordem que lhes interessa, apontando o que deve e o que não deve ser feito. Agem como se o prefeito, os vereadores e todas as autoridades nada quisessem fazer na solução das demandas da comunidade. Imagina se o prefeito tivesse condições de fazer um aterro sanitário naquele local se já não teria feito, seria burrice política e administrativa. Mas a realidade é que somos um município pequeno, sem arrecadação, que tem uma população esclarecida, mas que em sua maioria, não contribui e ainda vive a falar mal e atravancar o trabalho de quem quer fazer. Estive na prefeitura essa semana e vi os funcionários deixando de trabalhar para a comunidade, para correr atrás de documentos para responder denúncias no Ministério Público. Denúncias feita por gente que chegou aqui e quer transformar nossa cidade naquilo que eles bem entendem. Nós, vereadores, devemos agir em defesa do povo que nos elegeu para o representar, não é usar nossa prerrogativa como vereadores para ficar atacando quem quer que seja.” Se posicionou o vereador Canela.

O vereador João Yuji afirmou que, devido ao TAC, o MPF bloqueou 500 mil reais do estado para ser usado na melhoria do depósito de resíduos sólidos, mas que a prefeitura não tomou providências. Quanto a questão de seu nome ter sido usado na postagem relativa a intoxicação por fumaça do lixo queimado, João Yuji disse que não tomará nenhuma medida porque a indicação da pessoa está correta, se tem intoxicado, tem  mesmo que pegar um laudo e acionar o município na justiça.

Usando seu espaço na tribuna, o vereador Claudiomar disse que está em Alto Paraíso de Goiás há 37 anos, e fogo, queimadas, sempre existiu nessa região, mas que ultimamente parece que virou moda fazer alvoroço no período de seca. Ele observa que os interesses por trás disso ficam claros se for lembrado o que aconteceu em 2017, quando um grupo fez um tumulto nacional com o incêndio na Chapada dos Veadeiros, comovendo pessoas no Brasil e no mundo, que fizeram vultosas doações para auxiliar no combate, mas, como é de conhecimento de todos, nunca foi feita uma prestação de contas de onde e como foi utilizado esse dinheiro. “Percebemos que tem pessoas, desde o ano passado, ansiosas para que um incêndio maior aconteça, visando novamente arrecadar dinheiro de pessoas e órgãos nacionais e internacionais. Qualquer fogo que se inicia em nossa região, vira um alarde. Sou proprietário de Pousada e vários clientes me ligaram querendo cancelar hospedagens porque foram informados que a Chapada estava novamente em chamas. Tive que mostrar que houve apenas um início de fogo em uma área, e que foi imediatamente controlado. Então se nota que algumas pessoas fazem questão de espalhar essas notícias alarmantes sobre fogo, notadamente com interesses escusos. Como foi dito pelo vereador Zé Nêgo, as pessoas passam a noite junto de uma fogueira, inalando fumaça, e ninguém se diz intoxicado. Acho estranho o vereador João Yuji aconselhar as pessoas a conseguirem relatório médico para entrar com ação contra o município. A palavra de um vereador tem um peso junto a sociedade. Não acho que seja isso que deve ser feito, acho que devemos unir forças executivo e legislativo para o atendimento das demandas e pelo crescimento do município. Ficar induzindo as pessoas de que o município é culpado por isso. Foi alguém da prefeitura que foi lá e pôs fogo? foi alguém do legislativo? não foi. O que devemos fazer é buscarmos recursos através de nossos representantes e tentarmos solucionar essa situação o mais rápido possível. Acho que devemos tomar muito cuidado com essas declarações em redes sociais, principalmente relacionadas ao fogo. Tem pessoas só esperando, e se puderem até colocam fogo, para depois ir angariar recursos e não prestar contas como já fizeram em 2017. Esse fogo na área do Lixão deve sim ser investigado, porque não havia nenhum fogo de incêndio nas proximidades, o que mostra que alguém deliberadamente colocou fogo.” Reagiu Claudiomar.

Tribuna Livre

A Tribuna Livre foi cedida ao secretário de Obras e Transportes, Luizinho, que fez um resumo das ações de sua pasta nos últimos meses, relatando, em seguida,  que foi comunicado no sábado, dia 16, que a área de depósito de resíduos sólidos (Lixão) estava pegando fogo. ressaltando que ele não tem recursos para apagar incêndio, mas tem experiência nesse tipo de operação. O secretário afirmou que sua primeira providência foi ligar para o Prev Fogo, sendo comunicado que estavam em Cavalcante combatendo chamas por lá, mas que mandariam uma equipe, como foi feito algum tempo depois. “Procurei o senhor Mauri, que me atendeu prontamente, enchendo seu caminhão de água, levando para a área de lixo atingida. Quero ressaltar que o incêndio foi criminoso, minha experiência como policial e como pessoa me permite afirmar, o incêndio foi criminoso. Passei, juntamente com o vice-prefeito Marlon, o vereador Uedson, o Badio, o pessoal do IBC e mais alguns companheiros, o dia todo apagando fogo. Quem deveria esta intoxicado éramos nós, no entanto estamos aqui, prestando contas, motivadas por pessoas nunca aparecem para ajudar, mas que ficam incitando a população a agir contra a administração municipal. Administração que agiu prontamente para apagar o fogo de incêndio. Enquanto estávamos lá trabalhando, alguém veio e colocou fogo em frente minha casa, o que confirma que o incêndio foi criminoso. Quero agradecer o Mauri Gaúcho que disponibilizou o caminhão, sem nenhum custo, para a prefeitura combater o fogo, e ainda foi para a frente de trabalho, nos auxiliar a apagar as chamas.” Relatou o secretário Luizinho.

“Como já conhecemos as artimanhas dessa gente, chamei o prefeito Martinho e fomos ao Ministério Público coloca-los a par de todo o ocorrido, porque eu sabia que no fundo, por trás de tudo isso havia a intenção de nos incriminar, como já aconteceu no passado, comigo e o falecido Tiãozão, quando apagamos outro incêndio naquela mesma área. Agora, vir incentivar pessoas a entrar com ação contra o município por intoxicação, não é papel de vereador. Bastava nos procurar, ou ao prefeito, para buscarmos solução conjunta.” Discorreu o secretário.

Luizinho fez uma breve explanação sobre vários fatores, sendo questionado por alguns vereadores sobre várias demandas, e ouvindo reivindicações sobre outras tantas.

Ainda dentro dos debates a que se propõe a democracia, houve ainda um breve confronto verbal com o vereador João Yuji, sendo rapidamente contornado pela rápida intervenção do presidente da Câmara, vereador Tito, que em seguida deu por encerrada a sessão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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