ARTIGO: O PP e a desgraça moral

Roberto Cury*

Nasci político no partidarismo de meu saudoso pai que, mesmo sendo estrangeiro na época, militava com muita firmeza no PSP (Partido Social Progressista) de Adhemar de Barros, no Estado de São Paulo. Já aos 14 anos não perdia nenhuma das reuniões do PSP na Capital, acompanhando meu pai, sempre convocado pelo líder do Partido. Muitas vezes o velho Adhemar afagou minha cabeça preconizando imaginários sucessos políticos na vida adulta.
Com a extinção dos partidos em 1964 e logo na criação da ARENA e do MDB, optei por seguir na mesma linha política e filiei-me na ARENA, morando, já em Goiás, em Itumbiara.
Enquanto ARENA militei e exerci alguma liderança nos municípios de Maurilândia e Santa Helena.
Lembro-me de uma passagem em que apoiava Antônio Garcia numa sublegenda da ARENA à Prefeito de Santa Helena quando viajando, já a alguns dias ausente da cidade, fui acusado de estar num veículo do Presidente do MDB ouvindo um comício da ARENA. A confusão se deu porque existia um outro doutor Roberto, só que médico e Vice-Presidente do MDB e era ele que estava no carro ouvindo à distância o tal comício. Quando retornei tive que provar que estava longe para o então Prefeito e particular amigo Turmim Azevedo, o Branco do Serafim como era conhecido. A briga foi brava pois ele, mesmo diante de todos os documentos que apresentei de que naquela data estava a mais de 700 quilômetros de distância, não acreditou e somente seu velho pai Serafim de Azevedo, depois de “danar” muito com o filho, acabou convencendo-o de que a teimosia dele barrava-se na fidelidade que eu sempre demonstrei como partidário e como amigo pessoal. Pela madrugada, pois já passava muito da meia noite, o Branco bateu em minha casa para me pedir desculpas e num longo abraço reencetamos nossa confiança recíproca e selamos nossa amizade definitivamente. Daí em diante trabalhamos juntos em várias empreitadas políticas.
Com o desfazimento da ARENA e do MDB, tornei-me um dos fundadores do Partido Democrático Social – PDS e de lá para cá, só as siglas foram mudadas.
Na sucessão do presidente João Figueiredo (1979-1985), o PDS, então partido de apoio ao governo, conseguiu impedir, na Câmara dos Deputados, o restabelecimento das eleições diretas, mas não evitou a disputa interna pela candidatura presidencial. O PDS dividiu-se em dois grupos e dois candidatos, o então ministro Mário Andreazza e o ex-governador Paulo Maluf. Com a vitória de Maluf na Convenção, o partido se desagregou. Andreazza e outros fundaram o PFL e apoiaram o PMDB de Tancredo Neves/Sarney.
Em 1993, o PDS funde-se com o Partido Democrata Cristão (criado em 1988) e nasce o Partido Progressista Reformador (PPR). Em 1995, o Partido Progressista Reformador promovia nova fusão, agora com o Partido Progressista (PP), legenda criada no ano anterior, também por agregação de outras forças partidárias nascendo o Partido Progressista Brasileiro (PPB), desde logo comprometido com o apoio ao Plano Real, ao governo Fernando Henrique Cardoso e à estabilização econômica do Brasil.
Quando dirigia a Diretoria Administrativa e Financeira do DETRAN-GO, sob os auspícios do PPB, por imposição da Executiva Nacional, me vi Presidente Regional desse Partido, substituindo, a Roberto Balestra que havia bandeado para o outro lado.
Alguns meses depois, promovi a Convenção Estadual e a Comissão Executiva foi presidida pelo então Vice-Governador Alcides Rodrigues Filho que permaneceu à frente da sigla em Goiás até sua deposição num golpe de Balestra junto às autoridades nacionais. Nessa primeira Executiva fui Secretário Geral, depois, nas outras 1º Secretário, Suplente até voltar a ser apenas um membro comum.
No interregno da administração de Alcides, findo o governo Cardoso e completado mais esse ciclo na vida política do país, a Convenção Nacional do PPB, buscando inspiração nas transformações políticas internacionais, decide, em 4 de abril de 2003, retirar da sigla PPB o “B”, ficando apenas “PP” – Partido Progressista.
Com o término do governo estadual de Alcides Rodrigues Filho, em 2010, o Diretório Nacional desconstituiu o Diretório Estadual entregando a Balestra que novamente passou a dirigir o Partido como Comissão Provisória, pois esta é a única maneira pela qual ele sempre conseguiu manter-se na Chefia. Seu reinado demorou pouco porque o mesmo veneno de que sempre se utilizou, inoculou-se nas suas entranhas, pois o Governador Marconi Perillo, do PSDB, com sua força pessoal, tirou-o da Provisória, por ato da Executiva Nacional, colocando o PP Estadual sob a presidência do Vice-Governador José Eliton de Figuerêdo Júnior que promoveu nova Convenção se tornando seu Dirigente máximo.
A destituição de Alcides Rodrigues e a assunção de Balestra foi responsável para que Alcides e seu grupo se sentisse desmoralizado e a maioria abandonou a sigla. Permaneço filiado, mas, completamente alheio às coisas do Partido, atacado pelo desânimo, principalmente porque nenhum de nós compactua com as traquitanas que foram cometidas em nível nacional e também pela acusação que pesa sobre os dois Deputados Federais da sigla: Roberto Balestra e João Sandes Júnior.
A corrupção e a desmoralização mancham, indelevelmente, o PP que tantos bons e honestos administradores mantiveram, no passado, o Partido como um dos protagonistas da boa e da correta política em que a honestidade e o progresso da Nação, do Estado e dos Municípios foram os responsáveis pela evolução distintiva de um Brasil gigante pelos seus dirigentes.
Infelizmente, a vergonha foi colocada de lado e a ganância individual de tantos pares, que, inescrupulosamente, buscaram se enlamearem na podridão dos costumes, levam o Partido à bancarrota moral e à descrença do eleitorado.
Hoje, o Partido Progressista – PP vive a desgraça moral e poucos são os que se salvam. Por isso, esses poucos terão de nadar muito contra a correnteza numa tentativa de chegarem à orla sem se afogarem no mar de lama em que se transformou nossa sigla partidária.

Roberto Cury* é advogado e articulista de O VETOR.

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