COLUNA ESPÍRITA – A ÚLTIMA VERSÃO

Roberto Cury

Ao fim de cada dia vivemos a última versão. E se morrermos à noite, durante o sono? Como será que seremos recebidos no Mundo Maior? O que levaremos na mala da viagem definitiva que possa nos promover ao convívio dos bons espíritos?

Parece que estamos caminhando para fazermos um exame de consciência antes que a foice da dona Morte ceife nossa vida!

Mas, não é bem isso, não.

Se nos ocupássemos exclusivamente desta preocupação, certamente não teríamos tempo para viver com segurança, bem estar e vontade o dia-a-dia. Em pouco tempo ou nos enlouqueceríamos ou ficaríamos vegetando como folhas caídas nas águas dos ribeirões sendo levadas pelas ondulações e gorgolejos, velozes ou morosos, por entre as pedras e paus que tentam obstruir o caminho do líquido transparente e escorrido, ora lavando as margens, ora enverdecendo a relva ribeirinha.

Então o poeta, abstraído e encantado, se perdendo na contemplação da natureza, declamaria versos de amor profundo:

Lindo poema, mais que teorema, é lema do porvir!                                             

Brisa suave, doce conclave, sonho de criança,

tanta esperança, basta sentir!

No embalo lírico, o leitor devaneia para além das dificuldades e se deixa encantar e encantado, vagueia para horizontes inusitados dantes jamais vistos, encarando a vida de forma  mais humana, mais sensível à movimentação do tempo e das coisas que vão acontecendo com naturalidade.

Nas páginas de Momento Espírita, encontramos um texto denominado A Última Versão, assim:

É muito natural, hoje em dia, a discussão acerca do abortamento. Um assunto como esse não poderia merecer menor atenção das pessoas, pela seriedade com que se apresenta.
Quando tratamos dessas questões, poderíamos ir um pouco mais fundo em nosso raciocínio, perguntando-nos se, em algum momento de nossas vidas, já não cometemos algum tipo de abortamento.
Talvez a primeira resposta que nos venha à mente é a de que nunca cometemos um abortamento. Pelo menos, não no que se refira à interrupção da gestação de um corpo.
Mas se pensarmos de forma mais abrangente, podemos dizer que provocamos um aborto toda vez que, por um motivo ou outro, impedimos que boas ideias se manifestem.
Quando impedimos que uma pessoa expresse seus sentimentos, suas opiniões.
Ou se não contribuímos com o que temos de bom para alguém, estamos abortando as oportunidades que as situações nos oferecem.
Se pensarmos bem, esses fatos ocorrem com frequência em nossas vidas.
Se estamos ceifando ideias, reprimindo fatos, matando bons pensamentos, estamos provocando o abortamento das boas coisas.
Quando, no lar, não permitimos que as ideias dos demais familiares sejam expressadas; quando não permitimos que um filho ou irmão nos conte algum fato; quando não damos a devida atenção às suas conversas, podemos estar cometendo um abortamento dos mais sérios, porque impedimos que a boa desenvoltura, o interesse, a confiança da criança se manifeste.
Talvez esses fatos não nos pareçam importantes, mas se não colaboramos para o bom entendimento familiar, através do diálogo, valorizando as boas ideias, as opiniões, andamos pelas vias do egoísmo, praticando o abortamento das oportunidades de crescimento e harmonia.
Devemos meditar acerca do assunto, e examinar se não estamos cometendo muitos abortamentos desse tipo.
As boas ideias, as grandes realizações sempre exigiram um tempo para acontecer, um tempo que se faz natural para que as coisas amadureçam e venham a frutificar no tempo certo.
É assim que se dá com a formação da vida física, que requer um tempo determinado para que o corpo se forme e possa vir à luz.
Dê uma chance às boas ideias, às opiniões construtivas, para que a vida se faça pelas boas realizações de cada dia, na construção conjunta de um futuro melhor, como Deus que nos renova a cada dia a certeza de que viver é para sempre.

Todos nós possuímos um tesouro inestimável. Chama-se corpo humano. É uma máquina especial, dotada de tantas utilidades que o homem já concluiu que necessita estudá-lo muito ainda para descobrir tudo de que ele é capaz.

A nossa capacidade cerebral, por exemplo, não é utilizada senão em parte.

Com tal preciosidade, no entanto, não nos preocupamos o quanto deveríamos. Falamos de como o violentamos, em nosso dia-a-dia.

Por exemplo, existem pessoas que se dizem difíceis de serem provocadas. Aparentam calma, sangue frio e ouvem provocações descabidas, sem entrarem em uma briga.

Dizem que não vale a pena aceitar a provocação alheia, se desgastar em função de desequilíbrios que o outro esteja vivenciando.

Têm razão. Poupam-se assim de adquirir problemas graves para sua saúde, como seja, um mal-estar gastrointestinal, com cólicas, dores no estômago, dores de cabeça.

Outras criaturas, entretanto, aceitam facilmente qualquer provocação. Basta um pequeno esbarrão, entrando no ônibus, alguém que passe à sua frente em uma fila de espera qualquer, uma ultrapassagem no trânsito, para comprarem uma briga.

Alteram-se, xingam e, mesmo depois do pretenso mal-educado se retirar do local, continuam despejando o fel da sua raiva por sobre os que as rodeiam.

Falam sem parar, fazem gestos exagerados e, se eventualmente, a outra pessoa aceitar o desafio, partem para as vias de fato. A violência explode em tapas, socos e até uso de arma.

Essas pessoas com dificuldade retornam ao estado anterior, de mais ou menos normalidade, ou de normalidade aparente.

Mal imaginam que, enquanto pretendem agredir, estão a si mesmas fazendo grande mal. Um ataque de raiva descarrega na corrente sanguínea tal quantidade de tóxicos que, após tudo tranquilizado, prossegue envenenando órgãos nobres do corpo.

Durante um acesso de ira, dezenas de neurônios, células cerebrais delicadas, podem ser destruídas.

Enquanto a adrenalina circula em abundância, o coração bate descompassado e, por se tratar de uma bomba frágil, sofre avarias. Desta forma, as pessoas que se enraivecem e brigam com facilidade são mais propensas a problemas cardíacos.

Um ministro da saúde de nosso país já teve oportunidade de afirmar que o trabalho não mata. O que mata é a raiva.

E tem razão. A raiva é responsável pela instalação no organismo físico de muitas enfermidades. Enfermidades que, mais cedo ou mais tarde, conduzirão a criatura a diminuição de sua capacidade mental e física. Na sequência, para a morte prematura.

Sábio foi o Mestre Jesus que nos ensinou a mansuetude, a calma, a paciência ante todas as situações.

Com calma em nosso cotidiano, evitaremos as indisposições com terceiros, as irritações na via pública, a agressividade no trânsito da cidade, bem como os estresses desnecessários dentro do lar.

Com calma entenderemos cada ocorrência à nossa volta e cada pessoa em nosso caminho.

Guardemos a certeza de que, com calma, nada perderemos em nossa trajetória humana.

Seja qual for a situação que nos convide à ação, à tomada de atitude, façamos com calma, com muita calma e aguardemos a colheita dos frutos da saúde e da paz.

Anunciemos a paz, preguemos a paz, vivamos em paz e, com certeza, o mundo estará melhor, começando ao nosso redor e se espalhando para tosos os cantos do Universo.

Então quando partirmos de volta ao Mundo Maior, seremos recebidos por um largo círculo de amigos que fizemos através dos nossos atos de paz, de harmonia e do bem estar que causamos naqueles que se acercaram de nós, por nós ou por atração natural.

Assim, a nossa última versão terrena poderá ser responsável pela elevação a altiplanos mais elevados no Plano Espiritual.

            POEMA

            Roberto Cury

Mirei tua fotografia,

examinei teus lábios,

tuas sobrancelhas arqueadas,

teu queixo arredondado,

teus brincos de cigana,

teus cabelos esparzidos,

e me quedei surpreendido

diante de tão linda morenez.

Descobri:

que a brisa

que perpassa

pela tua tez,

e se aromatiza

no teu corpo,

é a mesma que chega pra mim,

e me deixa inebriado,

da beleza de todo o teu ser…

Me agradam teus olhos amendoados

e a doçura que adivinho em ti…

Lindo poema, mais que teorema, é lema do porvir!

Brisa suave, doce conclave, sonho de criança,

tanta esperança, basta sentir!

 

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