DOUTRINA ESPÍRITA – NADA ACONTECE POR ACASO

Roberto Cury

– Na vida tudo tem uma razão de ser, pois nada acontece por acaso, – afirmou Primo ao seu irmão Sergio que olhou estupefato para o mano vinte anos mais velho que ele.

– A vida, sem sombras de dúvidas, é inescrutável, maninho. Quando a gente pensa que tudo está correndo às mil maravilhas, parece que o mundo se arrebenta em cima de nossas cabeças causando um turbilhão de confusões e, às vezes, até bate-bocas inesperados acontecem com as pessoas mais íntimas, como se o inexplicável fosse trivial.

Primo iniciou a conversa, contando que Edgar, seu amigo de infância, quando criança, havia sofrido nas mãos do pai. O homem entendia que por ser o mais velho, Edgar era o exemplo do bem e do mal para os seus irmãos e tudo o que acontecesse fosse de arte infantil, fosse por achar que havia alguma desobediência às regras que sempre impunha aos filhos, o mais velho era quem tinha feito a traquitana ou ensinado aos menores a fazê-la. Edgar apanhava com vara de marmelo ou se retorcia de dor cortado pelo cinto largo e cravejado de ilhós que o pai tirava da própria calça para o espancamento.

Edgar não chorava e nem gemia, o que então “enfezava” mais ainda o pai que então lhe batia com mais violência, às cegas, dando-lhe cintadas nas costas, na cabeça, onde acertasse até que o menino desmaiava em virtude da pancadaria.

Muitas vezes, sua mãe, dona Maria, teve de se interpor entre o pai e o filho já desmaiado para que a sessão de espancamento cessasse. O pai bufando de raiva e arfando de cansaço e o filho exangue no chão.

Esse tratamento foi contínuo até aos 16 anos quando Edgar apanhou a última surra. Havia terminado o curso que se chamava ginásio e deveria fazer o segundo que se dividia em científico, clássico e comercial. O científico era o preferido para quem quisesse escolher um curso superior na área científica: Medicina, Enfermagem, Física, Química, Engenharia e outras. Clássico para quem quisesse Línguas, Direito, Filosofia, Magistério. E comercial para Contabilidade, Comércio e afins.

Então, após o jantar, o pai disse-lhe: – vai para a sala de visitas e me espera lá. Depois que fumar o meu cigarro vou conversar com você.

Edgar foi para a sala, assentou-se numa cadeira defronte da mesa e, tremendo, esperou o pai, pressuroso, preocupado mesmo com o que viria.

Logo depois o pai chegou e se assentou defronte do outro lado da mesa e perguntou: – agora que você terminou o ginásio, o que você quer estudar?

Edgar assustado, ainda mais preocupado, respondeu perguntando: – posso escolher? E o pai: – pode.

Edgar animado disse: – quero ser advogado, então vou fazer o curso comercial que me fará contador e assim enquanto trabalho com contabilidade ganho o sustento para fazer a faculdade de Direito.

O pai, franziu as sobrancelhas e disse – não, você vai fazer o científico para estudar medicina. Você quando criança disse que queria ser médico.

Edgar, retrucou: – eu não quero ser médico, quero ser advogado.

Então o pai se levantou , retirou o cinto: – você está me chamando de mentiroso e iniciou a pancadaria, quando adentra a sala o tio Augusto, primo irmão do pai  “danando” com ele.

– Não bata no seu filho. Chega.

Estabeleceram um diálogo nervoso até que o pai determinou ao filho que fosse dormir.

Edgar teve de fazer o curso científico, mas, quando terminou, tinha já seus 19 anos e se inscreveu no Vestibular sendo aprovado para o Curso de Química. O pai chamou-o de “burro” porque passara em segundo lugar no vestibular perdendo para u’a moça que ficou em primeiro.

Edgar concluiu o curso com brilhantismo tendo sido considerado o melhor dos alunos . Tanto foi assim que um dos professores observando a capacidade intelectual e o interesse do mesmo, apresentou-o ao Dr. Pedro, Engenheiro Químico de uma grande empresa nacional que produzia fios de nylon extraídos do óleo da mamona e lá ele se desenvolveu até que foi contratado por uma indústria que extraia celulose da madeira e, posteriormente, depois de se submeter a um concurso dificílimo foi trabalhar numa grande multinacional de medicamentos , colas industriais e outros produtos afins. Após conclusão do curso  foi convidado a fazer estágio remunerado e depois contratado como Químico numa indústria de cinema, onde permaneceu até deixar os trabalhos técnicos para dirigir uma escola de preparação para o ginásio.

Casou-se com dona Glória Maria e desvinculando-se da escola foi morar em outro Estado brasileiro, muito longe da megalópoles em que vivera até então.

No ano seguinte, nasceu-lhe a primeira filha e ele, prestando vestibular, iniciou o tão sonhado curso de Direito, novamente passando em segundo lugar, superado por uma jornalista da capital paulistana.

Como sempre foi estudioso, terminou o curso de Direito como o melhor aluno, lembrando que no Vestibular a maior nota de Língua Portuguesa, de todos os tempos, fora a sua, sendo elogiado tanto pelos examinadores, quanto pela direção da Faculdade.

Casado e com uma filha, lecionou Química, Português, História em vários colégios, enquanto que nos períodos de folga ia para o Fórum aprender com os profissionais e com os juízes, tendo feito, também, amizade com os meirinhos, com os cartorários, com os policiais que serviam na condução de presos ou que faziam a guarda do Prédio da Justiça.

No instante em que recebera o diploma na Festa de Formatura, o seu velho pai, ainda encarnado, abraçou-o e disse: – parabéns, finalmente você fez o que queria, mas eu estaria mais feliz se o diploma fosse de médico.

Edgar sorriu e abraçou o pai.

A vida lhe proporcionou grandes chances como profissional do Direito, tendo sempre se destacado, especialmente quando cuidou de interesses coletivos.

Não se enriqueceu, mas teve uma boa vida profissional.

Entretanto, o seu crescimento deu-se como espírito encarnado. Nunca sentiu raiva, nem nutriu qualquer rancor contra seu pai, pois pensava: – não fizesse ele amor com a minha mãe, eu não estaria aqui. Então como ter raiva do homem que me trouxe ao mundo?

Até à desencarnação do pai, foi o seu melhor amigo.

Tornou-se espírita já maduro ao completar 33 anos e até hoje procura dedicar-se à faina

diária palestrando em casas espíritas, escrevendo artigos doutrinários e corrigindo livros para serem publicados por outros autores.

Frequenta assiduamente a mesma Casa Espírita desde tempos imemoriais.

Então, Primo, voltando-se para o irmão: – Sergio, como lhe disse, nada acontece por acaso, pois tudo tem uma razão de ser. Nesta história você pode observar que há um encadeamento de fatos que sempre convergiram para que a história fosse acontecendo com naturalidade e um passo de cada vez. Ninguém deve atropelar nada, pois a vida oferece as oportunidades para todos cumprirem bem suas tarefas.

POEMA

Quis te fazer um verso,

Despretensioso,

Mas, sem reverso…

Busquei no coração,

A inspiração…

Falei co´a alma

Na maior calma…

Procurei o sorriso,

Descobri o Paraíso…

Mas, só encontrei o Amor,

Na tu´alma em flor!

Agora, pretensiosa,

De mim cioso,

Nunca orgulhoso,

Digo e repito:

Meu coração

Bate só por ti…

Minh´alma

Suspira só por ti…

Mulher!

Minha internacional mulher!

Beijos em profusão,

Pra nunca ter confusão…

Fale conosco: robcury@hotmail.com

 

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