DOUTRINA ESPÍRITA – Tanto a Fazer em Pouco Tempo

Em cada encarnação temos tanto a fazer e muito pouco tempo para cumprir tudo a que nos comprometemos.

Roberto Cury

Enquanto do outro lado, fazemos planos e idealizamos tantas oportunidades e quando mergulhamos na carne, o esquecimento obnubila nossos pensamentos de tal sorte que não conseguimos nos lembrar das tarefas a que tínhamos nos comprometido.

Mas é aí que reside a grande felicidade, o de cumprirmos as tarefas que nos surgem, como se fossem ao acaso, mas, que, no fundo, tinham sido planejadas durante o preparo para encarnação.

Foi assim com César. Ainda é assim com César.

César nascera em lar humilde em que o pai tinha uma vendinha na fazenda do sêo Artur Paranoá, onde ponteava um gado branco de qualidade superior e que era motivo do orgulho do patrão.

Os pais, sêo Euclides cuidava do pequeno comércio enquanto dona Maricota, fritava uns salgados que ficavam expostos numa vitrine fechada para melhor escolha da freguesia.

Com o lucro, que não era muito, compravam carne para alimentação e para vender em forma de bifes nos sanduiches de pão caseiro que a mãe de César também assava num pequeno forno a lenha no fundo do quintal. Chamavam de fornalha na qual também assavam bolos que completavam o farnel dos famintos caixeiros viajantes ou pessoas das roças que convergiam à “corrutela” em busca de adquirir bens de consumo manufaturados ou fabricados vindos de outros lugares, porque no lugarejo não tinha nem pensão, nem restaurantes, nem bares. Até o gole de pinga tinha de ser ali na venda do Euclides.  Os famintos fregueses faziam o sanduiche descer goela abaixo sorvendo um guaraná caçula natural porque não tinha gelo, nem geladeira, uma vez que ainda não existia rede elétrica no lugarejo.

Mas, ninguém reclamava. Os tempos eram bicudos, grassava uma revolução em que os estados brasileiros se uniram contra os paulistas e muito sangue inocente correu pelas ruas e sítios onde os combates se deram. Tudo por conta da conquista política do caudilho gaúcho Getúlio Vargas que acabou governando o país por duas vezes até sua desencarnação trágica através de suicídio já no ano de 1954.

Durante aquele período de sombras, faltou querosene para os lampiões e para motores que consumiam aquele combustível; açúcar era raro, arroz quase sumiu de vez, feijão nem se diga. A carne de gado, na maior parte das vezes era vendida com osso e não se separava, ainda, as mais nobres das mais duras. Nas roças, o povo se alimentava melhor que a gente das cidades, pois produziam além de muitos vegetais que faltavam na mesa dos centros urbanos, a carne e a gordura de porco e frango caipira criado nos terreiros.

Quando algum fazendeiro matava uma res, repartia as carnes com seus empregados e com vizinhos e as sobras eram salgadas e expostas ao sol transformando-se em “jabá” na linguagem popular e guardada para alimentação em dias posteriores. Algumas famílias chegavam a cozinhar ou fritar pedaços inteiros de carne bovina ou suína, conservando-os em banha guardadas em latas de vinte litros.

Uma pequena capela era visitada, uma vez por mês, por um padre que vinha da cidade grande e ouvia confissões, celebrava uma missa e distribuía a comunhão e pregava um sermão qualquer que nem sempre falava ao coração dos poucos fiéis que ali residiam.

Sêo Alípio era o benzedor que curava espinhela caída, quebranto e outros males que atingiam crianças e até adultos. Nas noites das quartas-feiras, quatro ou cinco pessoas se reuniam com sêo Alípio, sua esposa dona Terezinha, os dois filhos ainda menores do casal e durante hora, hora e meia liam o Evangelho Segundo o Espiritismo, trocavam ideias e, ao final, o Alípio apunha suas mãos sobre a cabeça de cada um dos presentes, inclusive da mulher e filhos, aplicando um passe reconfortante.

Logo depois um cafezinho quente era servido, com bolos e os visitantes partiam de volta às suas casas.

Foi assim, que César, ainda menino, companheiro de escola e amigo de Jonatas, o filho mais velho de Alípio, conheceu a Doutrina Espírita e mesmo a contragosto de dona Maricota, passou a frequentar as reuniões na casa daquele médium.

Já aos 16 anos, a mediunidade totalmente aflorada, por orientação transmitida através de comunicação recebida por Alípio, César passou a ajudar nos passes e, logo em seguida, recebeu a manifestação do seu guia espiritual que disse chamar-se irmão Camilo e que a dupla iria trabalhar sempre em benefício dos necessitados, inclusive com tratamentos e processos de cura tanto físicas quanto espirituais.

Assim foi durante mais de trinta anos.  A pequena corrutela, aumentada, tornou-se uma cidade com cerca de seis mil e quinhentos habitantes. A energia chegara já no primeiro mandato do Sr. Luiz Cabreúva, prefeito que incentivou o plantio de melão e melancia fazendo o município se desenvolver, enriquecendo os produtores e aumentando o comércio, agora bem variado, podendo ser encontrado “de tudo” na cidade.

Alípio já havia desencarnado e também dona Terezinha.

César construiu um pequeno Centro onde passou a atender todas as noites as pessoas que procuravam consolo por alguma perda ou conforto por dificuldades momentâneas.

Cerca de cinquenta frequentadores apareciam religiosamente nas quartas e mais ou menos vinte ou trinta, procuravam-no nos outros dias da semana, inclusive no domingo. Quando no domingo, pela manhã atendia no Centro e de tarde e de noite na sua residência. Parecia incansável, sempre sorridente e disposto para a lide com os espíritos.

Quando alguém lhe perguntava se nunca descansava, ele dizia: – servir a Deus e aos homens nunca cansa, pelo contrário faz-me invadir uma imensa alegria e uma grande satisfação. E, completava: – temos tanto a fazer e tão pouco tempo para cumprir as tarefas do dia-a-dia.

Um dia perguntaram para dona Esmeralda, a esposa de César, se ele a colocava de lado, uma vez que tinha tantos cuidados com as pessoas, além do trabalho profissional como veterinário. E ela, sorrindo respondeu: – ele jamais deixou de dar-me atenção e também aos filhos, além de cumprir com todas as tarefas como esposo e como pai, é também o amigo que aconselha quando temos algum problema.

César, além de cidadão exemplar, possuidor de uma mediunidade ímpar, de atender a todos com desvelo, carinho, respeito e consideração, conquistou a amizade do padre Antônio, pároco local e do pastor Ananias, da igreja luterana e sempre em festas de formatura, ou outros eventos comunitários, os três eram convidados para a celebração de culto ecumênico de ação de graças.

Assim foi até que aos 82 anos, César partiu de volta ao Plano Espiritual. Luiz Augusto, um dos médiuns, formado naquela Casa Espírita, ao fazer a prece antes do sepultamento, deslumbrou aos que velavam o corpo, com a narrativa do que vira da chegada de César naquela paragem do espírito.

César fora recebido por milhares de espíritos que entoaram cantigas de amor fraternal e de agradecimentos a Deus pela volta daquele que tanto fizera em benefício de todos que o procuraram quando encarnados e também pelos espíritos desencarnados que se beneficiaram por suas orientações. Foi uma verdadeira festa no céu.

Bem-aventurados os que trabalham em benefício dos semelhantes, porque deles é o Reino dos Céus.

POEMA

Roberto Cury

Ah! quão bom,

esse teu tom,

de harmonia e paz!

Seja tua vida,

mais querida,

sempre capaz!

E teus sonhos,

todos risonhos,

que o anjo traz!

Seja felicidade

e igualdade

que tua vida faz!

Fale conosco: robcury@hotmail.com

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